sexta-feira, 1 de março de 2013

DEFININDO A TEOLOGIA BÍBLICA


[Extraído e adaptado da apostila "Teologia Bíblica", de autoria do Pr. Almir Marcolino para a Disciplina de Teologia do NT do Seminário Batista do Cariri]


Discussão: Por que o cristão deveria preocupar-se com estudos bíblicos e teológicos?

1.      É uma necessidade de todos

O professor e teólogo Solano Portela em Seu artigo por Título “O Estudo da teologia e as Escrituras” diz: “Estudar teologia não é uma área segregada à academia teológica; não pertence à esfera de intelectuais maçantes que se preocupam em descobrir e firmar termos técnicos incompreensíveis aos demais mortais; não é monopólio daqueles que escrevem livros meramente para adquirir a respeitabilidade e admiração de seus colegas docentes; nem pertence a mosteiros anacrônicos, que procuram se aproximar de Deus distanciando-se do mundo que Ele criou. Mas é tarefa de todas as pessoas”. (Fonte:monergismo-mores.blogspot.com.br)

O estudo da teologia é uma tarefa para todo cristão. Erramos quando não nos esforçamos na leitura e reflexão das escrituras. Todos nós somos teólogos [filósofos]

2.      O perigo do espírito anti-intelectualista no meio cristão e suas consequências

“O estudo da teologia não deveria ser visto como uma ameaça à experiência da fé. Antes, deveriam ser encarados como que provendo o fundamento necessário à vida cristã prática e devocional”

3.      O perigo da teologia árida [academicista], fria e irrelevante.

A [boa] teologia possibilita a construção de uma cosmovisão cristão suficiente para interpretar qualquer fato que encontramos.

4.      A teologia nos possibilita relacionarmos com Deus e com a vida corretamente. Nossas afeições estão ligadas a teologia, nosso amor está ligado a sua palavra. Nossa devoção está ligada a teologia.

“A essência da idolatria está nas ideias indignas que temos a respeito de Deus.” [A.W.Tozer]

5.      Porque o que você acredita (sua doutrina) determinará como você vive (sua prática). Isto pode ser visto em sua vida cotidiana. Similarmente, suas crenças sobre Deus e sua Palavra determinam como você vive dia a dia.

A.    Definindo Teologia e Teologias

1.      Teologia é o estudo ou a ciência de Deus. Como o Deus cristão é um ser ativo, um ser que age, então o estudo deste Deus também envolve Suas obras, Sua atividade em se relacionar com o homem. Sendo assim poderemos definir a Teologia como: o estudo da pessoa e obra de Deus em seus relacionamentos com o homem.

- CR – Estudo da revelação à luz da razão + a tradição como fonte de fé, submetido ao magistério da igreja.
- Bultman – A apresentação conceitual da existência humana como uma existência determinada por Deus.

2.      Teologia Sistemática [Dogmática]

a.       TS Clássica - É a tentativa de sistematiza os dados bíblicos. Organizando-os em uma estrutura sistemática. [TS Clássica – ex. Charles Hodge, Berfkof, Strong, Chafer, Thiessen]

Quais os tópicos da TS?


b.      Construtiva é a disciplina que procura dar um relato coerente às doutrinas da fé cristã, baseando-se principalmente nas Escrituras, situando-as no contexto da cultura em geral, expressando-as num idioma contemporâneo, e relacionando-as às questões da vida.” [Erickson] [TS Construtiva – ex. Erickson, Grudem, Paul Tillich]

3.      Teologia Histórica [História de Dogma] – Estuda as doutrinas através da história da igreja.

Conhecida como história da teologia ou história da doutrina, tem estreita conexão com duas áreas muito importantes: a história da igreja e a teologia cristã.

É aquilo que os cristãos tem pensado e crido através dos vários períodos da história.

4.      Teologia Prática diz respeito as disciplinas que indicam como os cristãos praticam e proclamam a fé [ Evangelismo e Missões, Educação Cristã, Aconselhamento / Piedade / Governo Eclesiástico / Liturgia / Pregação...]

B.     Os Sentidos da Expressão “Teologia Bíblica”

1.      Como adjetivo a teologia ou crença de alguém. [Ex. A teologia do fulano não é uma TB]. Referindo-se que as doutrinas de alguém serem ou não serem fundamentadas na Bíblia. Neste sentido toda teologia para ser verdadeira tem que ser Teologia Bíblica

2.      Mas em séculos recentes a expressão ganhou a conotação de uma disciplina distinta dentro dos estudos teológicos e bíblicos. Neste sentido é que usaremos no curso.

C.    A Definição de Teologia Bíblica

É aquela teologia que se descreve e se contém na Bíblia e conscientemente vinculada de era em era enquanto todo o contexto antecedente e mais antigo se torna a base para a teologia que se seguia em cada era “.[1][Kaiser]

Teologia Bíblica é a disciplina que estrutura a mensagem dos livros da Bíblia em seu ambiente histórico. É uma disciplina primariamente descritiva. Ela não está inicialmente preocupada com o significado último dos ensinos da Bíblia ou com sua relevância para os dias atuais. Esta é a tarefa da Teologia Sistemática. A tarefa da Teologia Bíblica é expor a teologia encontrada na Bíblia em seu próprio contexto histórico, em seus próprios termos, categorias e formas de pensamento.[2] [Ladd]“Teologia Bíblica é a disciplina que estrutura a mensagem dos livros da Bíblia em seu ambiente histórico. É uma disciplina primariamente descritiva. Ela não está inicialmente preocupada com o significado último dos ensinos da Bíblia ou com sua relevância para os dias atuais. Esta é a tarefa da Teologia Sistemática. A tarefa da teologia bíblica é expor a teologia encontrada na Bíblia em seu próprio contexto histórico, em seus próprios termos, categorias e formas de pensamento.” (20)


“A Teologia bíblica é a tentativa de estudar a contribuição individual de um dado escritor ou de um determinado período ao cânon da mensagem. Ela combina análise e síntese.”[3] [Zuck]

D.    Definindo-a como disciplina

            É a busca por se entender o significado da revelação bíblica dentro do seu contexto histórico. Procura estudar as doutrinas na forma como aparecem nos escritos do Antigo Testamento e Novo Testamento. Procurando “traçar de forma cuidadosa o desenvolvimento da doutrina no período da produção bíblica.”[4]

"A Teologia Bíblica define-se basicamente a partir de sua distinção em relação à Teologia Sistemática e à História das Religiões. A proposta fundamental da Teologia Bíblica é construir uma teologia a partir das Escrituras, de modo indutivo, sem depender das categorias definidas pelas Sistemática ou Dogmática "[5]

 Ela é normalmente tratada  pelos Testamentos. Tem a do Antigo Testamento e a do Novo Testamento. 

[1] Do Antigo Testamento: “...é a  disciplina da teologia exegética que procura os rudimentos do plano de Deus nas mais primitivas revelações de Deus ao homem e então coleta e organiza as adições subsequentes e responde estritamente de acordo com o processo histórico da auto-revelação de Deus no Antigo Testamento.”[6]   
 [2] Do Novo Testamento.  É a disciplina que procura estudar o que os crentes do Novo Testamento criam qual a essência de sua crença e prática.

E.      Os pressupostos da Teologia Bíblica

1.      Unidade da Bíblia. Apesar de  ser uma coleção de livros, com vários tipos de literatura, escrita por autores diferentes, em situações bem diversas, num período de mais ou menos 1500 anos, a Bíblia apresenta uma unidade singular. Sendo este fato um dos argumentos que indicam sua sobrenaturalidade. (por exemplo, Lucas 24:25-27, 44-47)

2.      A crença de que a revelação de Deus foi dada em circunstâncias históricas definidas, e através de atos históricos. Deus agiu na história para revelar-se aos homens.

            3. Crença que estes atos revelatórios de Deus têm significado ético e prático, i.e. conteúdo teológico. A palavra interpretativa acompanhou o evento, ou antes ou depois do mesmo. Ela estuda não apenas os acontecimentos e mensagens da Bíblia, mas também o seu significado.

            4. Crença que a  revelação foi cumulativa. Deus não revelou todo seu plano no início. Mas, como um rio, que ao iniciar-se é apenas um riacho e vai crescendo “ aos poucos tornado-se em um caudal enorme até desaguar nos umbrais da eternidade.”[7] Deus falou o seu propósito por etapas,  Cl. 2.17; Hb. 1.1s; 10.1; 11.13,39s; 1 Pd. 1. 10ss. Por isso a teologia bíblica

traça passo a passo, ao longo da Bíblia, a história da salvação, permitindo que a história assuma qualquer forma apropriada a cada estágio da revelação, reconhecendo como a doutrina se desenvolve à medida que a revelação progride.”[8]

Este acréscimo foi feito seguindo certos critérios de conteúdo que cooperavam com a revelação já dada.
Escritura se move da criação e da queda (Gênesis 1-3) com a perspectiva de uma nova criação (Apocalipse 21-22), onde o pecado e suas consequências são totalmente removidos.

5.      Crença na inspiração divina da Bíblia. Deus não apenas revelou-se através de atos e palavras no passado, mas foi da Sua vontade que aquela revelação fosse mantida intacta, por isto garantiu o seu registro através da inspiração. De modo que temos na Bíblia hoje a autêntica Revelação de Deus.

Toda a Escritura é inspirada por Deus, embora os autores humanos são identificados e sua individualidade é reconhecida (por exemplo, 2 Tm 3:16;. Hebreus 3:7-11;. 4:7;. 2 Pedro 1:20-1)


F.     O que a Teologia Bíblica leva em consideração
                       
            1. O texto
            2. O contexto histórico
            3. A  mensagem geral da Bíblia.

G.     Como ela é distinguida das outras disciplinas

            1. A Teologia Histórica (História de Dogma) trata de como os ensinos da Teologia Bíblica foram entendidos através da história da Igreja. Considerar a Teologia Bíblica como Teologia Histórica, é desconsiderar a doutrina da inspiração. Pois, apesar do estudo do pensamento dos diversos mestres da História da Igreja ser importante, não consideramos estes pensamentos como Palavra de Deus. Eles estão num nível inferior.

            2. A Teologia Sistemática já existia antes da Teologia Bíblica.  Seu papel é sistematizar e aplicar todo o ensino descoberto pela Teologia Bíblica, colocar dentro de uma estrutura compreensível ao homem em seu tempo. Nesta sistematização e aplicação ela se vale de recursos de outras disciplinas: filosofia, revelação natural, etc. A Teologia Bíblica lhe serve de fonte.

Como podemos observar, a Teologia Bíblica parte unicamente das Escrituras e procura prescindir da filosofia e da teologia sistemática, organizando os dados bíblicos a partir da lógica interna do pensamento bíblico. É essencialmente descritiva, mas pode também tornar-se normativa quando pergunta qual o valor do texto bíblico para o intérprete de hoje. Um exemplo prático da diferença de abordagem entre as duas pode ser percebido no campo da escatologia. Enquanto a teologia bíblica discute as tensões bíblicas entre o “já” e o “ainda não” do Reino de Deus (escatologia realizada e escatologia futura), a teologia sistemática evangélica volta-se para divisões como pré-milenismo, pós-milenismo, amilenismo, pré-tribulacionismo, etc.[Luís Sayão]

            3. Introdução ao Antigo Testamento e ao Novo Testamento. Estas disciplinas devem preceder a Teologia Bíblica, pois esta depende daquelas. Já que a TEOLOGIA BÍBLICA estuda os livros da Bíblia em seu ambiente histórico, ela deve ter os dados para conhecer este ambiente.

            4. História de Israel. Alguns estudiosos acreditam que a TEOLOGIA BÍBLICA nada mais é do que a História de Israel. Os que agem assim desprezam a ação sobrenatural de Deus e a doutrina da inspiração. O estudo da história de Israel é importante, pode até ajudar a TEOLOGIA BÍBLICA, mas a TEOLOGIA BÍBLICA estuda a revelação de Deus em e através daquela história.

            5. Exegese. Esta serve de fonte e ferramenta para a TEOLOGIA BÍBLICA. Para descobrir o significado do texto bíblico a TEOLOGIA BÍBLICA deve fazer boa exegese.

            6. Teologia Prática. Esta aplica os ensinos nas diversas áreas da nossa vida, tanto como indivíduos, como quanto comunidade.

ABORDAGEM
Fonte dos Dados
Metodologia
Hermenêutica

Teologia Bíblica

Cânon das Escrituras
Exegética e Teológica
Organização: Conceitual, Tópica e Histórica.
Descritiva
e Normativa

Teologia Sistemática

Escrituras Sagradas, Tradição Histórica, Razão (filosofia) e Experiência Humana.
Teológica
e Filosófica.
Organização sistemática e lógica.
Normativa
e Construtiva

História da Religião

Escrituras, documentos de outras religiões, literatura e arqueologia.
Fenomenológica
e Histórica:
Organização: Cronológica e Genética.
Descritiva
Quadro comparativo construído por Luiz Sayão extraído: http://www.prazerdapalavra.com.br/colunistas/luiz-sayao/3874-a-importancia-da-teologia-biblica-luiz-sayao.html 

H.     Os passos que formam a Teologia Bíblica

1.      Investigação do texto - Exegese filológica e histórica, buscando o sentido exato das palavras e das ideias no seu próprio contexto. As perguntas que devem ser feitas:

                        a. Qual o melhor texto ?
                        b. Qual o significado das palavras ?
                        Depois fazer sua tradução do texto.

            2. Estudo hermenêutico - Estuda a estrutura e contexto do livro. Procura ver os temas, propósitos e razões do autor, etc. À luz disto, interpretar a passagem.

            3. Estudo histórico - Analisa o significado da revelação dentro do contexto histórico e da época. Pergunta: O que isto significava naquela época?
           
3.      Organização do ensino - O alvo é determinar como o crente dos tempos bíblicos pensava, cria e adorava.

I.        A Necessidade da TEOLOGIA BÍBLICA

   A Bíblia é a nossa regra de fé e prática, portanto precisamos aplicá-la corretamente em nossas vidas. Para fazer isto precisamos considerar que a revelação na forma como aparece na Bíblia não é supra-histórica nem supra-cultural. Ela foi dada em formas culturais e históricas, sendo assim ela não pode ser aplicada diretamente, sem uma adequação ao nosso contexto.

    Esta tarefa é difícil e perigosa. Para que ela seja bem feita é necessário entendermos bem o significado do ensino na época em que ele foi dado. Só assim poderemos aplicá-lo corretamente.
  
Outra razão para se estudar a Teologia Bíblica é a de evitar o erro da fragmentação. Nosso alvo deve ser o de ensinar tudo o que Jesus ensinou (Mt. 28.18-20), todo o desígnio de Deus (At. 20.20,27)

J.       Valores da TEOLOGIA BÍBLICA

            1. O valor para a exegese. Kaiser argumenta que a TEOLOGIA BÍBLICA tem um valor para o exegeta na área hermenêutica. Sem a TEOLOGIA BÍBLICA o exegeta não poderia dizer o agora  ( o que significa para nós hoje) do que havia descoberto do então, (O que significou para os primeiros leitores). Depois de fazer a análise do texto (palavras, termos, etc.)

“o texto pede para ser entendido e colocado num contexto de eventos e significados. Estudos históricos colocarão o exegeta em contato com o fluxo de eventos no tempo e no espaço, e as análises gramaticais e sintáticas identificarão a coleção de idéias na seção imediata do período sob investigação. Em cada exegese bem sucedida, deve haver alguns meios de identificar o centro ou cerne do cânon.[9].

            O estudioso faz a  exegese gramatical-histórico-sintático-cultural. Depois  ele dá o passo teológico. Emprega a Analogia das Escrituras Precedentes , isto é,

“coleciona apenas aqueles contextos antecedentes que existiam na mente do escritor das Escrituras enquanto escrevia a nova passagem, conforme se indica pela mesma terminologia, fórmulas ou eventos aos quais este contexto acrescenta outros em série.”[10]

            O teólogo bíblico deve:

“prover o exegeta com um conjunto de termos técnicos e teológicos que se acumulam, identificações de momentos chaves interpretativos na história do plano divino para o homem, e uma apreciação pela gama de conceitos agrupados em derredor de um núcleo unificador  - todos estes de acordo com sua progressão histórica no tempo.”[11]           

Um teólogo do Novo Testamento que concorda com Kaiser, é Leonard  Goppelt,  veja como ele se expressa sobre este ponto.

"A teologia do Novo Testamento é o cume do monte ao qual conduzem os difíceis caminhos da exegese neotestamentária e do qual, olhando-se para trás, a vista os pode abranger. Essa comparação evidencia que entre a exegese e a teologia do Novo Testamento existe uma reciprocidade. A teologia neotestamentária não somente coleta os dados da exegese, mas desenvolve um panorama, ou melhor, uma visão global que, por seu turno, enriquece a exegese e, no fundo, a torna possível. O estudo do Novo Testamento ocorre, tanto  teológica como historicamente, sempre a partir do detalhe em direção ao todo e do todo em direção ao detalhe."[12]

            2. O valor para a Teologia Sistemática. Impede que esta venha usar a Bíblia apenas como texto-prova sem considerar o caráter progressivo da revelação.

            3. O valor para missões. David  Hesselgrave[13], tem mostrado o valor da TEOLOGIA BÍBLICA para missões, especialmente ao se evangelizar em outras cosmovisões.
            O missionário está envolvido em três cosmovisões: a dele, a do povo onde trabalha, e a Bíblica. Sua tendência é de impor sua cosmovisão ao povo ao qual está evangelizando, ou de contextualizar o evangelho na cosmovisão do povo que está sendo evangelizado. Isto tanto pode dificultar a aceitação do evangelho, como pode prejudicar o conteúdo do evangelho. A função do missionário é a de comunicar uma terceira cosmovisão: a bíblica.
            A  melhor maneira de fazer isto é apresentando a forma literária e a seqüência progressiva da revelação histórica apresentada nas Escrituras. Outros métodos de ensino só devem ser apresentados quando a pessoa já tem visão do quadro completo.  Com base naquilo que Espírito Santo ensinou e destacou no NT, pode-se saber o que deve ser destacado no Antigo. Temos que admitir  que a Teologia Sistemática  apresenta o evangelho de uma certa cosmovisão, já a Teologia Bíblica nos ajudaria neste ponto.           
            A razão desta tese é que a TEOLOGIA BÍBLICA é  a teologia que preserva a estrutura histórica da Bïblia. Ela apresenta o quadro completo ao invés de se concentrar nas pequenas histórias. Ao se contar a história completa da redenção, coloca-se  Jesus dentro do quadro total, isto tanto facilita o entendimento como, diminui os riscos de se comunicar o evangelho de forma distorcida.
            O Pressuposto por trás deste pensamento é que: Deus não apenas inspirou as palavras e as verdades da Bíblia, mas também supervisionou todo o processo de revelação escrita, de forma que pudéssemos receber um modelo para discipular as nações – modelo que nos leve a uma compreensão daquilo que pode ser chamado cosmovisão cristã. Jesus começou sua exposição com Moisés (Lc 24.27).

4.      Para pregação. Quando  se entende o quadro geral da revelação de Deus nas Escrituras a facilidade de se acertar e explicar o ensino de um determinado texto é maior.

K.    A Tarefa da Teologia Bíblica[14] 

       Conforme já foi sugerido, a tarefa da teologia bíblica é construir uma teologia a partir do texto bíblico, edificando uma espécie de “macro-exegese”, procurando metodologicamente isentar-se de leituras confessionais e filosóficas a priori. Todavia, uma teologia bíblica séria deverá enfrentar algumas questões importantes das quais não poderá omitir-se:

1. Teologia descritiva ou normativa. Qual é o papel de uma teologia bíblica? Procurar detectar os conceitos teológicos dos autores bíblicos, ou deve ela também definir normas ético-religiosas a partir da experiência histórica e teológica da comunidade da fé. Será que um aspecto exclui o outro? É possível manter a tensão entre as duas ênfases?

2. A Relação entre os testamentos. Pode existir uma teologia do AT, independente do Novo Testamento? Será que a teologia do AT é uma disciplina exclusivamente cristã? Existirá uma teologia do AT judaica? Que tipo de relação existe entre os dois testamentos? Continuidade ou Descontinuidade? Como trabalhar a unidade da mensagem bíblica, sem desvalorizar o AT e sem uma “cristianização” exagerada do mesmo? Todas essas perguntas são inescapáveis e merecem atenção do teólogo bíblico.

3. Abordagem diacrônica ou sincrônica. Muitas teologias bíblicas e sistemáticas parecem considerar o texto bíblico homogêneo e uniforme. Será que é possível fazer teologia bíblica sem considerar a história e algum tipo de desenvolvimento teológico nas Escrituras. É verdade que o histori-cismo do século XIX e sua postura evolutiva trouxe uma espécie de trauma para muitos estudiosos da Bíblia. No entanto, ainda que seja árdua lidar com o papel da história na teologia, cremos ser impossível fazer uma boa teologia, sem considerá-la adequadamente, conforme bem observou Oscar Cullmann.

4. Relação com a autoridade da Bíblia. Por mais isenta que seja uma teologia bíblica, ela não poderá deixar de trabalhar com pressupostos. Um dos mais relevantes é exatamente o ponto de partida para com a própria Bíblia. Devemos praticar uma hermenêutica de suspeita para com o texto? Ou devemos interpretar o texto sagrado de maneira afirmativa, numa relação de empatia para com o mesmo. Quando um outro referencial externo explícito comanda a hermenêutica das Escrituras dificilmente poderá construir-se uma teologia bíblica que faça justiça ao texto.

5. Unidade e diversidade. Será que possível achar um centro de organização para uma teologia da Bíblia, ou do AT e do NT. Será que o conceito de aliança, de promessa ou de ação divina na história são adequados para organizar o material bíblico. Seria tal abordagem forçada, pelo fato de existirem vários centros de organização do texto? Essa é uma questão difícil que não pode ser esquecida. Além disso, a diversidade presente nas Escrituras levanta outra questão: Existe uma teologia bíblica (ou do AT/NT) ou existem várias teologias? É bem conhecido o fato de que os teólogos liberais levaram a diversidade teológica bíblica às últimas conseqüências. Por outro lado, fundamentalistas têm tentado ver unidade a partir de lentes mais sistemáticas e filosóficas do que bíblicas. Como deve ser trabalhada essa relação? Aí está um grande dilema ainda aberto para a discussão dos estudiosos.

6. Teologia canônica ou não canônica. Por mais simples que possa parecer essa questão, ela merece muita atenção. Já que temos acesso a material religioso da fé de Israel e da igreja primitiva, devemos perguntar se uma teologia bíblica deve fazer referência a esse material. Por outro lado, já que se trata de uma teologia construída dentro da comunidade da fé, a igreja, deve-se perguntar se os parâmetros da dogmática cristã e esse fator devem restringir a teologia a uma abordagem canônica.

7. Relação com a sistemática. Uma vez construída uma teologia bíblica chegará ela a algum lugar sem uma relação com a sistemática? É possível construir uma teologia bíblica sem cair na fragmentação muitas vezes acéfala? Que tipo de relação deve se manter entre as duas abordagens? Doutrinas cardeais e essencias da fé como a Trindade teriam relevância significativa numa teologia bíblica? Com certeza o diálogo é fundamental e necessário, para que as duas abordagens se completem.



[1] Kaiser, Walter C. TEOLOGIA DO ANTIGO TESTAMENTO ( Trad. Dordon Chown) SP: Vida Nova, 1980. Pg. 10
[2] Ladd, George E. A THEOLOGY OF THE NEW TESTAMENT. Grand Rapids: Eerdmans. Pg 25.
[3] Bock, Darrell, em Zuck, Roy Teologia do Novo Testamento. RJ:CPAD, 2008. Pg. 14
[4] Bock, em Zuck, pg 11
[5] Sayão, Luis, no prefácio do livro TEOLOGIA BÍBLICA OU SISTEMÁTICA - Unidade e Diversidade no NT, de Donald  A. Carson, pg. 7
[6] Kaiser, Walter C.  THE THEOLOGY OF THE OLD TESTAMENT  In THE EXPOSITOR’S BIBLE COMMENTARY , Ed. Frank E. Gaebelein; Grand Rapids:ZOndervan, 1979. Pg. 286
[7] Ferreira, Wilson C. ESBOÇO DE TEOLOGIA BÍBLICA DO NOVO E VELHO TESTAMENTOS. Campinas, SP:Luz Para o Caminho, 1985. Pg. 14.
[8] Merrill, Eugene H. citado em Zuck, pg. 11
[9] Kaiser, Teologia do Antigo Testamento. Pg.19
[10] Kaiser, op.cit. pg. 20
[11] Kaiser. Op.cit. pg. 20
[12] Goppelt, Leonhard TEOLOGIA DO NOVO TESTAMENTO , Vol. I – Jesus e a Comunidade Primitiva  ( Trad. Martin Dreher ) , 2a Edição, 1983, São Leopoldo: Sinodal; Petrópolis:Vozes. Pg. 15.
[13] Hesselgrave , David J. A COMUNICAÇÃO TRANSCULTURAL DO EVANGELHO- Vol 2 – Comunicação, Cosmovisões e Comportamento. ( Trad. Robinson Malkomes) SP: Vida Nova, 1995. Pg. 229
[14] [http://www.prazerdapalavra.com.br/colunistas/luiz-sayao/3874-a-importancia-da-teologia-biblica-luiz-sayao.html]

2 comentários:

  1. O dispensacionalismo é uma doutrina teológica e escatológica cristã que afirma que a segunda vinda de Jesus Cristo será um acontecimento no mundo físico, envolvendo o arrebatamento e um período de sete anos de tribulação, após o qual ocorrerá a batalha do Armagedon e o estabelecimento do reino de Deus na Terra.

    A palavra "dispensação" deriva-se de um termo latino que significa "administração" ou "gerência", e se refere ao método divino de lidar com a humanidade e de administrar a verdade em diferentes períodos de tempo.





    Índice
    [esconder] 1 Doutrina
    2 Dispensações
    3 Dispensacionalismo na Ficção
    4 Ligações externas


    Doutrina[editar]

    Inicialmente elaborada por John Nelson Darby a partir das visões da adolescente Margaret McDonald, o dispensacionalismo é um sistema teológico que apresenta duas distinções básicas: (1) Uma interpretação consistentemente literal das Escrituras, em particular da profecia bíblica, vista em várias séries de "dispensações" de Deus na história ea (2) A distinção entre Israel e a Igreja no programa de Deus.

    A teologia dispensacionalista acredita que há dois povos distintos de Deus: Israel e a Igreja. Os dispensacionalistas acreditam que a salvação foi sempre pela fé (Em Deus no Velho Testamento; especificamente em Deus o Filho no Novo Testamento). Os dispensacionalistas afirmam que a Igreja não substituiu Israel no programa de Deus e que as promessas do Velho Testamento a Israel não foram transferidas para a Igreja. Eles crêem que as promessas que Deus fez a Israel no Velho Testamento serão cumpridas no período de 1000 anos de que fala Apocalipse 20. Eles crêem que da mesma forma que Deus concentra sua atenção na igreja nesta era, Ele novamente, no futuro, concentrará Sua atenção em Israel (Romanos 9-11).

    Usando como base este sistema, os dispensacionalistas entendem que a Bíblia seja organizada em sete dispensações: Inocência (Gênesis 1:1- 3-7), Consciência (Gênesis 3:8- 8:22), Governo Humano (Gênesis 9:1 – 11:32), Promessa (Gênesis 12:1 – Êxodo 19:25), Lei (Êxodo 20:1 – Atos 2:4), Graça (Atos 2:4 – Apocalipse 20:3) e o Reino Milenar (Apocalipse 20:4 – 20:6). Mais uma vez, estas dispensações não são caminhos para a salvação, mas maneiras pelas quais Deus interage com o homem. O Dispensacionalismo, como um sistema, resulta em uma interpretação pré-milenar da Segunda Vinda de Cristo, e geralmente uma interpretação pré-tribulacional do Arrebatamento

    Dispensações[editar]

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  2. O aliancismo é um sistema hermenêutico que olha para a revelação bíblica entendendo que Deus se relaciona pactualmente com Suas criaturas desde a eternidade. Há, basicamente, três pactos. O primeiro é o "Pacto de Redenção", onde o Pai, na eternidade, propôs ao Filho enviá-lo com o propósito de redimir a humanidade mediante a obra expiatória deste. Dentro deste pacto maior entre o Pai e o Filho se encontram o "Pacto das Obras" que Deus fizera com Adão antes da queda e o "Pacto da Graça" que se deu pós-queda. O Pacto das Obras dizia respeito às condições para que Adão pudesse viver eternamente na presença de Deus, o que dependia de comer ou não da árvore do conhecimento do bem e do mal (Gn 2.17), ou seja, de obedecer ou não a Deus. Após a queda humana, Deus estabeleceu o Pacto da Graça, onde as condições para o homem ser salvo de sua separação de Deus se encontram na graça divina, com base na obra de Cristo e mediante a fé humana nesta obra do redentor. Isto implica em que para os aliancistas, desde a queda, a salvação do homem se dava por meio da fé na salvação daquele que viria da semente da mulher (Gn 3.15).


    Sendo assim, o pacto entre Deus e Abraão (Gn 12, 15, 17 e 22) é a renovação do Pacto da Graça já feito com Adão (Gn 3.15) e encontra seu cumprimento em Jesus (Gl 3.29) com a Nova Aliança, anunciada por Jeremias (Jr 31.27ss; Hb 8). As promessas quanto à terra feitas a Abraão encontram sua realização nas bênçãos da Nova Aliança e no estado final dos crentes (Hb 3.18 – 4.16; 8; 11.10), não havendo uma diferença de pactos mas uma renovada continuidade e o cumprimento da Aliança de Graça. Portanto, não há motivo para diferenciar Israel e Igreja já que ambos são o povo escolhido de Deus que desfrutam da mesma salvação graciosa dada por Cristo e em quem não há mais divisão, mas apenas um só povo (Ef 2.11ss).


    Esta visão unificada, então, dá ensejo para o entendimento espiritual das profecias referente à nação de Israel quanto à terra e ao reinado messiânico davídico que encontram seu cumprimento sobre a igreja e em Cristo, que reina assentado à direita de Deus (At 2.25-36; Ef 1.20-23).


    A lei mosaica é enxergada como uma administração temporária dentro do Pacto da Graça e que tinha por propósito tipificar o cumprimento maior na Nova Aliança. Israel não continuara em sua terra por não cumprir os termos da Antiga Aliança ou Lei Mosaica que por sua vez era uma republicação do Pacto das Obras, não tendo mais o poder de conceder vida eterna, mas sim, de delimitar as condições de vida ou morte dentro da terra prometida.
    Isto posto, a Antiga Aliança não tem valor algum diante da Nova Aliança e todos os aspectos cerimoniais e civis perdem seu valor como norma de vida. Apenas os aspectos morais é que permanecem para os crentes que estão sob a Nova Aliança, pois, tais aspectos não estavam presos à Antiga Aliança, e sim, ao caráter de Deus.


    De modo prático, toda a referência a Israel no Antigo Testamento será diretamente aplicado à Igreja, tanto no que diz respeito às qualidades quanto ao cumprimento profético. Por exemplo, uma das revistas de escola dominical da SOCEP, de cunho aliancista, dedica-se a abordar o tema "Igrejas do Novo Testamento" e no primeiro capítulo ao tratar sobre analogias referente à Igreja, diz que nós somos o rebanho de Deus, apoiando-se em Salmos 100.3. O mesmo pode ser dito quanto a visão de um dos ex-professores do presente escritor que afirmara que Isaías 11.6, ao falar do lobo convivendo com o cordeiro, se cumpre na igreja onde pessoas que antes viviam como inimigas, ao se converterem, passam a conviver em paz.


    A maneira como enxergam a continuidade da observância do aspecto moral contido no Pentateuco é exemplificada pela própria Confissão de Westminster, que vê o domingo como sábado cristão a ser obrigatoriamente observado pela Igreja, que anteriormente era o último dia da semana e, agora (isto é, a partir da ressurreição de Cristo), tornou-se o domingo.

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