Discussão: Por que o cristão deveria preocupar-se com
estudos bíblicos e teológicos?
1. É uma necessidade de todos
O
professor e teólogo Solano Portela em Seu artigo por Título “O Estudo da
teologia e as Escrituras” diz: “Estudar teologia não é uma área segregada à
academia teológica; não pertence à esfera de intelectuais maçantes que se
preocupam em descobrir e firmar termos técnicos incompreensíveis aos demais
mortais; não é monopólio daqueles que escrevem livros meramente para adquirir a
respeitabilidade e admiração de seus colegas docentes; nem pertence a mosteiros
anacrônicos, que procuram se aproximar de Deus distanciando-se do mundo que Ele
criou. Mas é tarefa de todas as pessoas”.
(Fonte:monergismo-mores.blogspot.com.br)
O estudo
da teologia é uma tarefa para todo cristão. Erramos quando não nos esforçamos
na leitura e reflexão das escrituras. Todos nós somos teólogos [filósofos]
2. O perigo do espírito anti-intelectualista no meio cristão e suas
consequências
“O estudo
da teologia não deveria ser visto como uma ameaça à experiência da fé. Antes,
deveriam ser encarados como que provendo o fundamento necessário à vida cristã
prática e devocional”
3. O perigo da teologia árida [academicista], fria e irrelevante.
A [boa]
teologia possibilita a construção de uma cosmovisão cristão suficiente para
interpretar qualquer fato que encontramos.
4.
A teologia nos possibilita
relacionarmos com Deus e com a vida corretamente. Nossas afeições estão ligadas
a teologia, nosso amor está ligado a sua palavra. Nossa devoção está ligada a
teologia.
“A
essência da idolatria está nas ideias indignas que temos a respeito de Deus.”
[A.W.Tozer]
5. Porque o que você acredita (sua
doutrina) determinará como você vive (sua prática). Isto pode ser visto em sua
vida cotidiana. Similarmente,
suas crenças sobre Deus e sua Palavra determinam como você vive dia a dia.
A.
Definindo Teologia e
Teologias
1.
Teologia
é o estudo ou a ciência de Deus. Como o Deus cristão é um ser ativo, um ser que
age, então o estudo deste Deus também envolve Suas obras, Sua atividade em se
relacionar com o homem. Sendo assim poderemos definir a Teologia como: o estudo
da pessoa e obra de Deus em seus relacionamentos com o homem.
- CR – Estudo da revelação à luz da razão + a
tradição como fonte de fé, submetido ao magistério da igreja.
- Bultman – A apresentação conceitual da existência
humana como uma existência determinada por Deus.
2.
Teologia
Sistemática [Dogmática]
a.
TS
Clássica - É a tentativa de sistematiza os dados bíblicos. Organizando-os em
uma estrutura sistemática. [TS Clássica – ex. Charles Hodge, Berfkof, Strong,
Chafer, Thiessen]
Quais os tópicos da TS?
b.
Construtiva
é a disciplina que procura dar um relato coerente às doutrinas da fé cristã,
baseando-se principalmente nas Escrituras, situando-as no contexto da cultura
em geral, expressando-as num idioma contemporâneo, e relacionando-as às
questões da vida.” [Erickson] [TS Construtiva – ex. Erickson, Grudem, Paul
Tillich]
3.
Teologia
Histórica [História de Dogma] – Estuda as doutrinas através da história da
igreja.
Conhecida
como história da teologia ou história da doutrina, tem estreita conexão com
duas áreas muito importantes: a história da igreja e a teologia cristã.
É aquilo
que os cristãos tem pensado e crido através dos vários períodos da história.
4.
Teologia
Prática diz respeito as disciplinas que indicam como os cristãos praticam e
proclamam a fé [ Evangelismo e Missões, Educação Cristã, Aconselhamento /
Piedade / Governo Eclesiástico / Liturgia / Pregação...]
B. Os Sentidos da Expressão “Teologia Bíblica”
1.
Como
adjetivo a teologia ou crença de alguém. [Ex. A teologia do fulano não é uma
TB]. Referindo-se que as doutrinas de alguém serem ou não serem fundamentadas
na Bíblia. Neste sentido toda teologia para ser verdadeira tem que ser Teologia
Bíblica
2.
Mas em
séculos recentes a expressão ganhou a conotação de uma disciplina distinta
dentro dos estudos teológicos e bíblicos. Neste sentido é que usaremos no
curso.
C. A Definição de Teologia
Bíblica
“É aquela teologia que se descreve e se
contém na Bíblia e conscientemente vinculada de era em era enquanto todo o
contexto antecedente e mais antigo se torna a base para a teologia que se
seguia em cada era “.[Kaiser]
“Teologia Bíblica é a disciplina que
estrutura a mensagem dos livros da Bíblia em seu ambiente histórico. É uma
disciplina primariamente descritiva. Ela não está inicialmente preocupada com o
significado último dos ensinos da Bíblia ou com sua relevância para os dias
atuais. Esta é a tarefa da Teologia Sistemática. A tarefa da Teologia Bíblica é
expor a teologia encontrada na Bíblia em seu próprio contexto histórico, em
seus próprios termos, categorias e formas de pensamento.”
[Ladd]“Teologia Bíblica é a disciplina
que estrutura a mensagem dos livros da Bíblia em seu ambiente histórico. É uma
disciplina primariamente descritiva. Ela não está inicialmente preocupada com o
significado último dos ensinos da Bíblia ou com sua relevância para os dias
atuais. Esta é a tarefa da Teologia Sistemática. A tarefa da teologia bíblica é
expor a teologia encontrada na Bíblia em seu próprio contexto histórico, em
seus próprios termos, categorias e formas de pensamento.” (20)
“A Teologia
bíblica é a tentativa de estudar a contribuição individual de um dado escritor
ou de um determinado período ao cânon da mensagem. Ela combina análise e
síntese.”
[Zuck]
D.
Definindo-a como
disciplina
É a busca por se entender o
significado da revelação bíblica dentro do seu contexto histórico. Procura
estudar as doutrinas na forma como aparecem nos escritos do Antigo Testamento e
Novo Testamento. Procurando “traçar de
forma cuidadosa o desenvolvimento da doutrina no período da produção bíblica.”
"A Teologia
Bíblica define-se basicamente a partir de sua distinção em relação à Teologia
Sistemática e à História das Religiões. A proposta fundamental da Teologia
Bíblica é construir uma teologia a partir das Escrituras, de modo indutivo, sem
depender das categorias definidas pelas Sistemática ou Dogmática "
Ela é normalmente tratada pelos Testamentos. Tem a do Antigo Testamento
e a do Novo Testamento.
[1]
Do Antigo Testamento: “...é a disciplina da teologia exegética que procura
os rudimentos do plano de Deus nas mais primitivas revelações de Deus ao homem
e então coleta e organiza as adições subsequentes e responde estritamente de
acordo com o processo histórico da auto-revelação de Deus no Antigo
Testamento.”
[2] Do Novo Testamento. É a disciplina que procura estudar o que os crentes
do Novo Testamento criam qual a essência de sua crença e prática.
E.
Os pressupostos da Teologia Bíblica
1.
Unidade
da Bíblia. Apesar de ser uma coleção de
livros, com vários tipos de literatura, escrita por autores diferentes, em
situações bem diversas, num período de mais ou menos 1500 anos, a Bíblia
apresenta uma unidade singular. Sendo este fato um dos argumentos que indicam
sua sobrenaturalidade. (por exemplo, Lucas 24:25-27, 44-47)
2.
A
crença de que a revelação de Deus foi dada em circunstâncias históricas
definidas, e através de atos históricos. Deus agiu na história para revelar-se
aos homens.
3. Crença que estes atos
revelatórios de Deus têm significado ético e prático, i.e. conteúdo teológico.
A palavra interpretativa acompanhou o evento, ou antes ou depois do mesmo. Ela
estuda não apenas os acontecimentos e mensagens da Bíblia, mas também o seu
significado.
4. Crença que a revelação foi cumulativa. Deus não revelou
todo seu plano no início. Mas, como um rio, que ao iniciar-se é apenas um
riacho e vai crescendo “ aos poucos
tornado-se em um caudal enorme até desaguar nos umbrais da eternidade.”
Deus falou o seu propósito por etapas,
Cl. 2.17; Hb. 1.1s; 10.1; 11.13,39s; 1 Pd. 1. 10ss. Por isso a teologia
bíblica
“traça passo a passo, ao longo da Bíblia, a
história da salvação, permitindo que a história assuma qualquer forma
apropriada a cada estágio da revelação, reconhecendo como a doutrina se
desenvolve à medida que a revelação progride.”
Este acréscimo
foi feito seguindo certos critérios de conteúdo que cooperavam com a revelação
já dada.
Escritura se
move da criação e da queda (Gênesis 1-3) com a perspectiva de uma nova criação
(Apocalipse 21-22), onde o pecado e suas consequências são totalmente
removidos.
5.
Crença
na inspiração divina da Bíblia. Deus não apenas revelou-se através de atos e
palavras no passado, mas foi da Sua vontade que aquela revelação fosse mantida
intacta, por isto garantiu o seu registro através da inspiração. De modo que
temos na Bíblia hoje a autêntica Revelação de Deus.
Toda a Escritura
é inspirada por Deus, embora os autores humanos são identificados e sua
individualidade é reconhecida (por exemplo, 2 Tm 3:16;. Hebreus 3:7-11;. 4:7;.
2 Pedro 1:20-1)
F.
O que a Teologia
Bíblica leva em consideração
1. O texto
2. O contexto histórico
3. A
mensagem geral da Bíblia.
G.
Como ela é distinguida das outras disciplinas
1. A Teologia Histórica (História de
Dogma) trata de como os ensinos da Teologia Bíblica foram entendidos através da
história da Igreja. Considerar a Teologia Bíblica como Teologia Histórica, é
desconsiderar a doutrina da inspiração. Pois, apesar do estudo do pensamento
dos diversos mestres da História da Igreja ser importante, não consideramos estes
pensamentos como Palavra de Deus. Eles estão num nível inferior.
2. A Teologia Sistemática já existia
antes da Teologia Bíblica. Seu papel é sistematizar
e aplicar todo o ensino descoberto pela Teologia Bíblica, colocar dentro de uma
estrutura compreensível ao homem em seu tempo. Nesta sistematização e aplicação
ela se vale de recursos de outras disciplinas: filosofia, revelação natural,
etc. A Teologia Bíblica lhe serve de fonte.
Como
podemos observar, a Teologia Bíblica parte unicamente das Escrituras e procura
prescindir da filosofia e da teologia sistemática, organizando os dados
bíblicos a partir da lógica interna do pensamento bíblico. É essencialmente
descritiva, mas pode também tornar-se normativa quando pergunta qual o valor do
texto bíblico para o intérprete de hoje. Um exemplo prático da diferença de
abordagem entre as duas pode ser percebido no campo da escatologia. Enquanto a
teologia bíblica discute as tensões bíblicas entre o “já” e o “ainda não” do
Reino de Deus (escatologia realizada e escatologia futura), a teologia
sistemática evangélica volta-se para divisões como pré-milenismo,
pós-milenismo, amilenismo, pré-tribulacionismo, etc.[Luís Sayão]
3. Introdução ao Antigo Testamento e
ao Novo Testamento. Estas disciplinas devem preceder a Teologia Bíblica, pois
esta depende daquelas. Já que a TEOLOGIA BÍBLICA estuda os livros da Bíblia em
seu ambiente histórico, ela deve ter os dados para conhecer este ambiente.
4. História de Israel. Alguns
estudiosos acreditam que a TEOLOGIA BÍBLICA nada mais é do que a História de
Israel. Os que agem assim desprezam a ação sobrenatural de Deus e a doutrina da
inspiração. O estudo da história de Israel é importante, pode até ajudar a
TEOLOGIA BÍBLICA, mas a TEOLOGIA BÍBLICA estuda a revelação de Deus em e através
daquela história.
5. Exegese. Esta serve de fonte e
ferramenta para a TEOLOGIA BÍBLICA. Para descobrir o significado do texto
bíblico a TEOLOGIA BÍBLICA deve fazer boa exegese.
6. Teologia Prática. Esta aplica os
ensinos nas diversas áreas da nossa vida, tanto como indivíduos, como quanto
comunidade.
ABORDAGEM
|
Fonte dos Dados
|
Metodologia
|
Hermenêutica
|
Teologia
Bíblica
|
Cânon
das Escrituras
|
Exegética
e Teológica
Organização:
Conceitual, Tópica e Histórica.
|
Descritiva
e
Normativa
|
Teologia
Sistemática
|
Escrituras
Sagradas, Tradição Histórica, Razão (filosofia) e Experiência Humana.
|
Teológica
e
Filosófica.
Organização
sistemática e lógica.
|
Normativa
e
Construtiva
|
História
da Religião
|
Escrituras,
documentos de outras religiões, literatura e arqueologia.
|
Fenomenológica
e
Histórica:
Organização:
Cronológica e Genética.
|
Descritiva
|
Quadro comparativo construído por Luiz Sayão extraído: http://www.prazerdapalavra.com.br/colunistas/luiz-sayao/3874-a-importancia-da-teologia-biblica-luiz-sayao.html
H.
Os passos que formam a Teologia Bíblica
1.
Investigação do
texto -
Exegese filológica e histórica, buscando o sentido exato das palavras e das ideias
no seu próprio contexto. As perguntas que devem ser feitas:
a. Qual o melhor texto ?
b. Qual o significado
das palavras ?
Depois fazer sua
tradução do texto.
2. Estudo hermenêutico - Estuda a estrutura e contexto do livro.
Procura ver os temas, propósitos e razões do autor, etc. À luz disto,
interpretar a passagem.
3. Estudo histórico - Analisa o significado da revelação dentro do
contexto histórico e da época. Pergunta: O que isto significava naquela época?
3.
Organização do
ensino
- O alvo é determinar como o crente dos tempos bíblicos pensava, cria e
adorava.
I.
A Necessidade da TEOLOGIA BÍBLICA
A Bíblia é a nossa regra de fé e prática,
portanto precisamos aplicá-la corretamente em nossas vidas. Para fazer isto
precisamos considerar que a revelação na forma como aparece na Bíblia não é
supra-histórica nem supra-cultural. Ela foi dada em formas culturais e
históricas, sendo assim ela não pode ser aplicada diretamente, sem uma
adequação ao nosso contexto.
Esta tarefa é difícil e perigosa. Para que
ela seja bem feita é necessário entendermos bem o significado do ensino na
época em que ele foi dado. Só assim poderemos aplicá-lo corretamente.
Outra
razão para se estudar a Teologia Bíblica é a de evitar o erro da fragmentação.
Nosso alvo deve ser o de ensinar tudo o que Jesus ensinou (Mt.
28.18-20), todo o desígnio de Deus (At. 20.20,27)
J.
Valores da TEOLOGIA BÍBLICA
1. O valor para a exegese. Kaiser
argumenta que a TEOLOGIA BÍBLICA tem um valor para o exegeta na área
hermenêutica. Sem a TEOLOGIA BÍBLICA o exegeta não poderia dizer o agora
( o que significa para nós hoje) do que havia descoberto do então, (O que significou para os
primeiros leitores). Depois de fazer a análise do texto (palavras, termos,
etc.)
“o texto pede
para ser entendido e colocado num contexto de eventos e significados. Estudos
históricos colocarão o exegeta em contato com o fluxo de eventos no tempo e no
espaço, e as análises gramaticais e sintáticas identificarão a coleção de
idéias na seção imediata do período sob investigação. Em cada exegese bem
sucedida, deve haver alguns meios de identificar o centro ou cerne do cânon..
O estudioso faz a exegese
gramatical-histórico-sintático-cultural. Depois
ele dá o passo teológico. Emprega a Analogia das Escrituras Precedentes
, isto é,
“coleciona
apenas aqueles contextos antecedentes que existiam na mente do escritor das
Escrituras enquanto escrevia a nova passagem, conforme se indica pela mesma
terminologia, fórmulas ou eventos aos quais este contexto acrescenta outros em
série.”
O
teólogo bíblico deve:
“prover o
exegeta com um conjunto de termos técnicos e teológicos que se acumulam, identificações
de momentos chaves interpretativos na história do plano divino para o homem, e
uma apreciação pela gama de conceitos agrupados em derredor de um núcleo
unificador - todos estes de acordo com
sua progressão histórica no tempo.”
Um
teólogo do Novo Testamento que concorda com Kaiser, é Leonard Goppelt,
veja como ele se expressa sobre este ponto.
"A
teologia do Novo Testamento é o cume do monte ao qual conduzem os difíceis
caminhos da exegese neotestamentária e do qual, olhando-se para trás, a vista
os pode abranger. Essa comparação evidencia que entre a exegese e a teologia do
Novo Testamento existe uma reciprocidade. A teologia neotestamentária não
somente coleta os dados da exegese, mas desenvolve um panorama, ou melhor, uma
visão global que, por seu turno, enriquece a exegese e, no fundo, a torna
possível. O estudo do Novo Testamento ocorre, tanto teológica como historicamente, sempre a
partir do detalhe em direção ao todo e do todo em direção ao detalhe."
2. O valor para a Teologia Sistemática.
Impede que esta venha usar a Bíblia apenas como texto-prova sem considerar o
caráter progressivo da revelação.
3. O valor para missões. David Hesselgrave,
tem mostrado o valor da TEOLOGIA BÍBLICA para missões, especialmente ao se
evangelizar em outras cosmovisões.
O missionário está envolvido em três
cosmovisões: a dele, a do povo onde trabalha, e a Bíblica. Sua tendência é de
impor sua cosmovisão ao povo ao qual está evangelizando, ou de contextualizar o
evangelho na cosmovisão do povo que está sendo evangelizado. Isto tanto pode
dificultar a aceitação do evangelho, como pode prejudicar o conteúdo do
evangelho. A função do missionário é a de comunicar uma terceira cosmovisão: a
bíblica.
A
melhor maneira de fazer isto é apresentando a forma literária e a
seqüência progressiva da revelação histórica apresentada nas Escrituras. Outros
métodos de ensino só devem ser apresentados quando a pessoa já tem visão do
quadro completo. Com base naquilo que
Espírito Santo ensinou e destacou no NT, pode-se saber o que deve ser destacado
no Antigo. Temos que admitir que a
Teologia Sistemática apresenta o
evangelho de uma certa cosmovisão, já a Teologia Bíblica nos ajudaria neste
ponto.
A
razão desta tese é que a TEOLOGIA BÍBLICA é
a teologia que preserva a estrutura histórica da Bïblia. Ela apresenta o
quadro completo ao invés de se concentrar nas pequenas histórias. Ao se contar
a história completa da redenção, coloca-se
Jesus dentro do quadro total, isto tanto facilita o entendimento como,
diminui os riscos de se comunicar o evangelho de forma distorcida.
O Pressuposto por trás deste
pensamento é que: Deus não apenas inspirou as palavras e as verdades da Bíblia,
mas também supervisionou todo o processo de revelação escrita, de forma que
pudéssemos receber um modelo para discipular as nações – modelo que nos leve a
uma compreensão daquilo que pode ser chamado cosmovisão cristã. Jesus começou
sua exposição com Moisés (Lc 24.27).
4.
Para
pregação. Quando se entende o quadro
geral da revelação de Deus nas Escrituras a facilidade de se acertar e explicar
o ensino de um determinado texto é maior.
K. A Tarefa da
Teologia Bíblica[14]
Conforme
já foi sugerido, a tarefa da teologia bíblica é construir uma teologia a partir
do texto bíblico, edificando uma espécie de “macro-exegese”, procurando
metodologicamente isentar-se de leituras confessionais e filosóficas a
priori. Todavia, uma teologia bíblica séria deverá enfrentar algumas
questões importantes das quais não poderá omitir-se:
1. Teologia descritiva ou normativa. Qual é o papel
de uma teologia bíblica? Procurar detectar os conceitos teológicos dos autores
bíblicos, ou deve ela também definir normas ético-religiosas a partir da
experiência histórica e teológica da comunidade da fé. Será que um aspecto
exclui o outro? É possível manter a tensão entre as duas ênfases?
2. A Relação entre os testamentos. Pode existir uma
teologia do AT, independente do Novo Testamento? Será que a teologia do AT é
uma disciplina exclusivamente cristã? Existirá uma teologia do AT judaica? Que
tipo de relação existe entre os dois testamentos? Continuidade ou
Descontinuidade? Como trabalhar a unidade da mensagem bíblica, sem desvalorizar
o AT e sem uma “cristianização” exagerada do mesmo? Todas essas perguntas são
inescapáveis e merecem atenção do teólogo bíblico.
3. Abordagem diacrônica ou sincrônica. Muitas
teologias bíblicas e sistemáticas parecem considerar o texto bíblico homogêneo
e uniforme. Será que é possível fazer teologia bíblica sem considerar a
história e algum tipo de desenvolvimento teológico nas Escrituras. É verdade
que o histori-cismo do século XIX e sua postura evolutiva trouxe uma espécie de
trauma para muitos estudiosos da Bíblia. No entanto, ainda que seja árdua lidar
com o papel da história na teologia, cremos ser impossível fazer uma boa
teologia, sem considerá-la adequadamente, conforme bem observou Oscar Cullmann.
4. Relação com a autoridade da Bíblia. Por mais
isenta que seja uma teologia bíblica, ela não poderá deixar de trabalhar com
pressupostos. Um dos mais relevantes é exatamente o ponto de partida para com a
própria Bíblia. Devemos praticar uma hermenêutica de suspeita para com o texto?
Ou devemos interpretar o texto sagrado de maneira afirmativa, numa relação de
empatia para com o mesmo. Quando um outro referencial externo explícito comanda
a hermenêutica das Escrituras dificilmente poderá construir-se uma teologia
bíblica que faça justiça ao texto.
5. Unidade e diversidade. Será que possível achar
um centro de organização para uma teologia da Bíblia, ou do AT e do NT. Será
que o conceito de aliança, de promessa ou de ação divina na história são
adequados para organizar o material bíblico. Seria tal abordagem forçada, pelo
fato de existirem vários centros de organização do texto? Essa é uma questão
difícil que não pode ser esquecida. Além disso, a diversidade presente nas
Escrituras levanta outra questão: Existe uma teologia bíblica (ou do AT/NT) ou existem
várias teologias? É bem conhecido o fato de que os teólogos liberais levaram a
diversidade teológica bíblica às últimas conseqüências. Por outro lado,
fundamentalistas têm tentado ver unidade a partir de lentes mais sistemáticas e
filosóficas do que bíblicas. Como deve ser trabalhada essa relação? Aí está um
grande dilema ainda aberto para a discussão dos estudiosos.
6. Teologia canônica ou não canônica. Por mais
simples que possa parecer essa questão, ela merece muita atenção. Já que temos
acesso a material religioso da fé de Israel e da igreja primitiva, devemos
perguntar se uma teologia bíblica deve fazer referência a esse material. Por
outro lado, já que se trata de uma teologia construída dentro da comunidade da
fé, a igreja, deve-se perguntar se os parâmetros da dogmática cristã e esse
fator devem restringir a teologia a uma abordagem canônica.
7. Relação com a sistemática. Uma vez construída
uma teologia bíblica chegará ela a algum lugar sem uma relação com a
sistemática? É possível construir uma teologia bíblica sem cair na fragmentação
muitas vezes acéfala? Que tipo de relação deve se manter entre as duas
abordagens? Doutrinas cardeais e essencias da fé como a Trindade teriam
relevância significativa numa teologia bíblica? Com certeza o diálogo é
fundamental e necessário, para que as duas abordagens se completem.