terça-feira, 22 de agosto de 2017

A DEFESA DO EVANGELHO: O PROBLEMA DE ISRAEL

Rm 9-11

1.      Introdução geral
2.      Introdução a perícope
3.      Esboço
a.       A Angustia Amorosa de Paulo – Israel no presente – sob maldição
b.      Os Privilégios Graciosos de Israel – Israel no passado – sob benção
c.       Aplicações

Introdução Geral

Por que Rm 9-11?

Muitos não veem nenhuma relação entre Rm 1-8 [que diz respeito de como Deus nos faz justos e trabalha por estes] e Rm 12-16 [que trata de como os justificados devem viver]. De Rm 8:39 deveria se seguir para Rm 12:1. Poderíamos esperar, depois do “hino” a fidelidade e ao amor inabalável de Deus pelos eleitos e a segurança destes expressa em Rm 8:31-39 o fim da carta e a transição para as exortações práticas vistas em Rm 12 em diante. Mas não é o que ocorre, entre esses dois pontos se crava Rm 9-11. Por que?

Alguns veem essa seção como um “parêntesis” “desvio” “apêndice” [Lloyd-Jones] outros, contrário, creem que aqui está o cerne da epístola ou “clímax” [Stendahl] que as duas partes [Rm 1-8,12-16] trata-se de introdução e conclusão. Rm 9-11 é a parte mais importante no argumento da carta, algo essencial. Então por que Paulo escreve Rm 9-11? Por que esta parte é importante e essencial? Por que falar sobre Israel? Duas situação:

1.      A rejeição de Israel na história da salvação

A figura de Israel e seu passado, presente e futuro precisa ser devidamente tratados à luz da história da salvação. Os judeus [israelitas] foram os receptores de tantos privilégios e não experimentam a salvação oferecida por Cristo, foram objetos do amor eletivo de Deus, mas estão endurecidos e são inimigos de Deus [Rm 11:28].

A maioria dos judeus rejeitaram o evangelho [Jo 1:11] mas o evangelho é o poder “primeiro” dos judeus [Rm 1:16].  Paulo ao apresentar o evangelho explicou que os judeus não são salvos, não estão garantidos porque “todos pecaram” “não há um justo” [Rm 2], mas eles eram o “povo escolhido” de Deus no AT? Essa situação de Israel levanta vários questionamentos. Quais?

Paulo afirmou com respeito a nós que Deus nos levaria a glória final [Rm 8:30], mas pense no momento alguém dizendo a Paulo: “Você diz que quando Deus chama alguém, ele sempre os leva até o lar. E quanto aos judeus? Deus os chamou, mas a maioria dos judeus rejeitou o Cristo no momento presente. Então, talvez o chamado e o propósito de Deus possam ser rejeitados! Se Deus prometeu que Israel seria seu povo, a maioria não creu em Cristo, isso significa que a promessa, o poder ou a misericórdia de Deus falhou?

Portanto, a questão da incredulidade judaica é de vital importância, não só para as igrejas do primeiro século que contêm judeus e gentios, mas também para nós. Isso nos leva profundamente a quem Deus é, e como ele age na história da salvação.

2.      A aplicação das bênçãos que pertenciam a Israel e que agora são desfrutadas pela igreja.

Não só é a rejeição de Israel que cria problema, mas a aceitação dos gentios aumenta, dando a entender, aparentemente, que Israel não foi só deserdado, mas substituído. O que fora então, aparentemente prometido ou que pertencia a Israel no AT Paulo aplica aos crentes no NT, seja judeu ou gentio. Os cristãos são herdeiros e filhos de Abraão, tem o Espírito, herdarão a glória. Paulo já tinha afirmado que seu ensino não implicava em cancelamento das vantagens dos judeus [Rm 3:1-4]. Agora ele elabora mais profundamente.
a.       O evangelho está enraizado no AT [continuidade], desprezar Israel e dizer que ele foi substituído pela igreja é descartar o evangelho de Deus, pois o Deus aí é o mesmo que falou e atuou na história de Israel. O Deus que fez promessas a Israel é o mesmo que fez promessas a nós. Então Paulo deve provar que Deus não fez nada no evangelho que seja inconsistente com sua promessa a Israel, que o evangelho que ele prega não é a negação, mas a afirmação do plano de Deus revelado no AT [Rm 1:2, 3:21], por isso, você verá que ele vai citar muito o AT para demonstrar que não há inconsistência em Deus e nem no seu plano. Ele está cumprindo suas palavras, ele é consistente e fiel a suas promessas que são vistas no VT e agora no NT. De uma certa forma tem-se aqui não somente uma defesa de Israel e seu futuro, mas uma defesa do caráter de Deus.

b.      Paulo usa o estilo dialógico, marca de Romanos. São perguntas retóricas para mover seu argumento. É como se estivesse um oponente fictício, mas há uma audiência real, um público alvo que ele tem em vista e um problema pastoral, a unidade e a relação deste no corpo de Cristo. Ele tem um propósito prático em Romanos é unir judeus e gentios cristãos em torno do evangelho.  Ele combate a presunção dos gentios na comunidade, ao sinalizar que o evangelho não é abandono de Israel, mas ele deixa claro também os judeus e cristãos judeus que presume que sua herança religiosa é a base de sua salvação. Paulo, portanto, critica os extremistas dos dois lados, preparando o caminho para a sua reconciliação.

c.       A incredulidade de Israel é uma questão de significado não só para os cristãos romanos, nem para os cristãos do primeiro século em geral, mas para todos os cristãos. O evangelho apresentado no NT é realmente um cumprimento do AT, sua conclusão natural? Ou é uma traição? Ele ensina que o evangelho é a continuação natural da história de salvação do AT, essa visão se opõe ao extremo de cortar o evangelho do AT [um desprezo do AT, um desprezo a Israel] e o outro extremo de judaizar o evangelho.

Romanos 9-11, portanto, é parte integrante da carta de Paulo aos romanos. Esses capítulos contribuem para a exposição de Paulo sobre o evangelho, mostrando que ele fornece plenamente as promessas de Deus para Israel, quando essas promessas são corretamente entendidas.


Pr. Luiz Correia